domingo, 29 de agosto de 2010

Memórias



Depois de terminar meus afazeres, como são cumpridos diariamente nem me lembro mais a quantos anos, procurei fazer algo que nunca fiz nessa minha longa vida, algo diferente, porém necessário.

Pode ser que pareça um tanto quanto anormal para um sexagenário aposentado como eu, que depois de perder a companheira de tantas primaveras, resolveu se isolar no campo.

Independentemente do que pense, o fato é que peguei meu velho cachimbo e fui pro alto de uma encosta bem verde e bonita que havia em minhas terras.

Chegando lá, sentei e me acomodei, escorando o velho corpo num vistoso Ipê amarelo, pensei! Sério, pensei em minha vida, nunca tinha feito isso dessa maneira acredita?

É engraçado, no começo queremos ser tantas coisas, mas, próximo ao fim queremos ser o mais simples possível.

Não fui um herói das lendas que lia, não matei nenhum dragão infernal.

Não fui nenhum sábio, não fui nenhum daqueles grandes reis, aclamados como deuses.

Talvez minha existência passe completamente despercebida por esse mundo, como uma leve brisa de outono.

Mas a cada fato que pensava de minha vida, percebi que sempre havia várias opções das quais EU escolhi como bem quis.

Fui alguém justo? Integro? Honrado? Essas são perguntas sem respostas, ou no mínimo com respostas diferenciadas para quem são feitas. Mas agora, não tem importância, já que colherei as sementes que plantei, terei o q mereço.

Aliás, eu fui rei sim, do meu arbítrio! Como todos são! Ninguém, em momento nenhum pode culpar alguém por seus males, somos governantes de nós mesmos, essa é o maior dom que Ele nos concede!

Compreendo agora porque se diz que esse período cheio de perigos e incertezas é uma dádiva, um sorriso brota do lado inverso ao do cachimbo.

Fiz o que, e como eu queria e podia... Depois de analisar tudo, tudo mesmo, eu sinto algo novo vindo de dentro, um sentimento tão simples e ao mesmo tempo tão majestoso.

Outra nova experiência, a completa e absoluta paz. Ah não acredito que durante todos esses anos eu nunca tive essa sensação. Aqui estou eu, um homem simples e pequeno tendo o prazer dos deuses, o Nirvana!

Já não havia a noção de tempo e espaço, não sei o que se passou durante isso, minutos, horas, talvez até dias?

Como foi bom tudo o que houve nesses anos...

Percebi que meu corpo estava trêmulo e com uma leve sensação de cansaço, mas não importava, não havia preocupação ou medo, permaneceria ali, eu sabia que devia ficar.

Olhei pro horizonte, tudo era tão belo, tão único, como eu nunca percebi isso antes?

O Sol se punha e meus olhos, pesados, se fechavam acompanhando o astro rei como uma reverência.

Agradeci por tudo... Não havia dor, apenas algo, aquilo que procuramos a vida toda e estava bem na nossa frente, todo o tempo.

Foi uma boa vida, com um bom final, foi sim...



Por Valdinei Matos''''