domingo, 10 de abril de 2011

A Canção Que Nunca Foi Escrita

“Era uma vez...” Assim sempre começam as grandes epopeias, histórias que nos fazem sair da rotineira e banal existência, que focalizam homens dotados de valores ímpares como coragem e honra, verdadeiros ícones que nos inspiram.
            Esses lendários paladinos, geralmente saídos de condições extremamente desvantajosas, provam seu valor através do sacrifício em prol de algo maior, que transcede a preocupação natural com a própria segurança. No final do conto, o valoroso combatente encontra a recompensa pela peleja com um belo e satisfatório final com sua amada e contemplamos um agradável “e viveram felizes para sempre”.
            No mundo real as coisas nem sempre chegam a ter um final tão belo e nem mesmo sequer um contexto tão glorioso, no mundo real as coisas apenas são como devem ser...
            Procurarei contar a história também de um cavaleiro, só que pertencente a um tempo diferente, onde não se há a noção de passado, presente ou futuro.O homem em “xeque” pertencia (pertence ou pertencerá) a um reino distante, com a localização exata desconhecida pela cartografia por diversos motivos assim como a famosa Avalon.
            Sinto também de antemão informar que seu nome se perdeu nas brumas do tempo ou mesmo nas diversificações linguísticas temporais da humanidade. Portanto não tenho maiores detalhes em torno do mesmo, só tenho a capacidade de fornecer fragmentos de sua essência, de sua jornada.
Assim como todo bom cavaleiro, esse homem veio das fileiras consideradas menos abastadas dentre todos os homens que realmente conhecem a face de seus pais. A duras provas seu valor foi testado com grande ênfase, foi armado e integrado ao grande círculo de nobres.
De forma parelha às histórias que ouvimos quando pequenos, o que realmente tinha valor para esse homem não eram títulos e sim valores, autoconhecimento, evolução.          
Mas ele não era como os demais, ele não era o simples fruto de uma mente criativa e cheia de esperanças, ele era um humano, um ser dotado das mesmas características que nos tornam seres tão cativantes e preocupantes ao mesmo tempo.
Se era bom ou ruim? Sejamos realistas, realmente é necessário essa alcunha? É preciso ser tão maniqueísta só pelo simples fato de ser padrão colocar definições? Nesse ponto a verdadeira face desse cavaleiro se torna obscura para a limitação imposta pela cultura de cada um que tomará conhecimento dessa história.    
Como um soldado fiel e zeloso, cumpriu sua função, protegeu seu “reino” com unhas e dentes, não era um paladino assim como também não se tornara um algoz, sua verdadeira função era fazer o que devia ser feito, ser o que necessitavam que ele fosse. Sua lealdade não estava atrelada a uma figura representativa, mas sim a um ideal, sangrou e sofreu por isso com orgulho, com a certeza de que era ali que deveria estar e por aquilo que deveria lutar.
Viu companheiros tombarem ao longo dos embates, abatidos por armas ou por fraquezas das quais minaram suas almas até a queda. Passou a carregar parte de cada um dos seus que descansavam ao lado dos grandes homens de outrora, como luzes que lhe guiariam para o tortuoso caminho da verdade.
Quando atingiu o meio dia de sua vida, teve a satisfação de sentir a prosperidade que seu reino adquirira, tinha a certeza de que uma pequena parcela daquela evolução se devia a sua luta incessante. Nesse momento mais do que nunca entendeu que sua missão estava cumprida, suas cicatrizes representavam medalhas valorosas que atestavam quantas vezes tomou armas em campo de batalha pelos seus.
E assim, este enigmático homem decidiu travar suas próprias batalhas, pois seu dever agora era consigo mesmo, deveria seguir em frente peregrinando pelos quatro cantos do mundo para vencer e conquistar a verdadeira face de seu coração guerreiro.
Não foram criados poemas, trovadores não cantaram aos quatro cantos os feitos deste cavaleiro, histórias que passam de pai pra filho não foram contadas, alcunhas especiais não foram outorgadas a ele. E com o passar dos tempos, seu nome foi esquecido, seus feitos não mais eram lembrados, sua face deixou de existir.
Prefiro acreditar que esse guerreiro que doou sua vida a uma causa maior que si mesmo, tenha definido que assim também deveria ser, não ter o nome lembrado, mas ter parte de si em tudo o que se vê. Cada parcela de sua alma contida sob a face da terra que amou, confesso que pensar assim alegra meu tão fantasioso coração. Mas onde quer que ele esteja, com certeza fez o que lhe parece correto, valoroso e honrado.
Porque somente eu conheço essa história tão ímpar? Como bem disse isso não se trata de algo criado, mas vivido...


Por Valdinei Matos''''